sábado, 4 de julho de 2015

Um chamado a maturidade cristã





A vida cristã é a todo tempo um chamado à maturidade, as crianças fazem o que dá prazer instantâneo, os adultos criam um plano e o seguem. Assim também é a nossa vida cristã, e as nossas atitudes e formas de visualizarmos e vivenciarmos o evangelho é o que distingue quando somos crianças ou adultos na fé.

A mudança na vida cristã não acontece quando ouvimos a verdade, mas quando refletimos e meditamos nela. Todavia, nossa concupiscência atrapalha esta meditação, visto que a conversão diária dos pensamentos acontece apenas com a reflexão, e quando pecamos, nos distanciamos desta realidade.

Nossa concupiscência enfraquece nossa vida com Deus. E nossa vida com Deus enfraquece o desejo da concupiscência. Deste modo, quando nos entregamos aos desejos do pecado, acabamos por adentrar em um círculo vicioso, que segue: Cometo o pecado; fico sem reflexão; não gero mudança de vida; cometo o pecado.

Portanto, para combatermos o pecado, precisamos nos aproximar de Deus. E isso só é possível conhecendo-o. Quando conhecemos mais, lembramos mais e consequentemente amamos mais. Quando amamos mais, sentimos um desejo mais intenso de nos relacionarmos com Ele, e por conta disto, rezamos mais. Amando mais e rezando mais, pecamos menos.

Podemos definir o conhecimento como os olhos internos do corpo. Ele olha para dentro, na memória, e traz algo novo para fora, diferente dos olhos externos, que olham o que está fora e trazem coisas para dentro.

O objetivo desta reflexão, é fazer um chamado à maturidade cristã, convidando a todos para que possamos direcionar nossos esforços na busca pelo conhecimento de Deus (Oseias 6,3 ; CIC 1), com o fim de nos tornarmos cristãos mais maduros, fundamentados em uma fé viva e sólida, direcionando nossas esperanças e intenções à cruz, e fundamentando-as nas promessas de Cristo.

Laudate Dominum nostrum Iesum Christum!

domingo, 21 de junho de 2015

Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor




“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor”
(Oséias 6,3)

O conhecimento das Sagradas Escrituras e da Tradição da Igreja (2 Tessalonicenses 2,15) é fundamental na vida de todos aqueles que se propõem a servir a Cristo. Quem sabe mais, erra menos, como nos mostra Jesus: “Errais não conhecendo as Escrituras” (Mateus 22,29).

O conhecimento aprofundado das Escrituras Sagradas, da Tradição e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos Padres, dos Santos e Santas da Igreja, trarão à sua vida um crescimento em fé e fortalecimento espiritual enorme. Você crescerá muito em sua caminhada, na graça, no conhecimento e se fortalecerá.

O estudo a respeito destas coisas não fará com que você tenha a autoridade de um sacerdote, mas fará de você alguém preparado para utilizar seus dons e talentos em prol do Reino de maneira mais significativa, além de fazê-lo amar verdadeiramente e intensamente a Deus, pois não há como amar aquilo que não conhecemos.

A sede em conhecer mais a respeito de nosso Senhor é uma das maiores evidências da ação do Espírito Santo em uma pessoa, pois este é um desejo de Deus, que nos chama para conhecê-lo e amá-lo com todas as nossas forças e com todo o nosso entendimento (Mt 22,37 ; CIC 1).

Pax Christi in regno Christi.

A humildade cristã





Do ponto de vista cristão, ninguém possui absolutamente nada pelos seus próprios méritos que o faça superior aos outros. Afinal, "o que tens tu que não tenhais recebido? E, se recebestes, por que se glorias como se não tivesse recebido?" (1 Coríntios 4,7). Portanto, quem quer que se ponha em um nível mais elevado que outros, não passa de um ignorante acerca do Evangelho.
A genuína base da humildade cristã consiste, por um lado, na compreensão de que nada possuímos por nós mesmos, e de outro, que se nós recebemos algum dom, talento ou um profundo entendimento acerca de uma verdade, isto deve ser totalmente debitado à conta da Graça Divina.
Se recebemos tal graça, o recebemos para ser usado em prol do Reino, e não para ser usado como uma forma de massagear nosso próprio ego, no intuito de elevarmos a nós mesmos em meio aos outros. Nossa principal missão deve ser a de direcionar cada uma de nossas ações a sempre glorificar e adorar a Cristo, nosso Senhor!

Se você se acha superior aos seus irmãos em Cristo, os olha com olhar de altivez, e considera-se melhor apenas por estar a mais tempo na caminhada, você não entendeu o Evangelho. O conselho que humildemente lhe dou é que reveja sua vida cristã, pois em nossa caminhada não existe espaço para este tipo de coisa, pois a arrogância e a soberba precedem a ruína, e a altivez de espírito a queda. (Provérbios 16,18).

Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas!
(Romanos 11, 36).

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Santa Igreja Romana, Una, Excelsa, Indivisa!






Resolvi tirar as últimas semanas para ouvir mais, ler mais, meditar mais, rezar mais, falar menos e escrever menos. Afinal, já diziam os antigos que o princípio da sabedoria é o silêncio, e há tempo de estar calado e tempo de falar (cf. Ec 3,7). Durante este tempo, me recolhi, buscando me aprofundar na doutrina da Igreja, estudando a Patrística, o Catecismo, as Sagradas Escrituras e ruminando em cada questão aprendida, rezando a Deus para que este aprendizado encontre terreno fértil em meu coração e intelecto, gerando bons frutos e discernimento, para que possam ser utilizados de forma prática em minha vida a favor do Reino.

Pois bem, neste texto, eu gostaria de abordar um assunto bastante delicado, muitas vezes negligenciado, pelo fato de poucas pessoas parecerem conseguir tratar sobre ele sem se sentirem ofendidas. E este assunto é extremamente importante e necessário ser tratado de forma adulta e madura, que é a questão de uma divisão que alguns de nós católicos acabamos por criar entre carismáticos e tradicionalistas. Ora, caro leitor, você poderia se apressar em afirmar como descrito no título deste texto, que a Igreja é Una e Indivisa, e ela realmente é, entretanto, quando levamos isto para o campo prático, vemos que as pessoas tem dificuldade de respeitar a individualidade das outras no que diz respeito a forma como querem contemplar e adorar a Deus, algumas chegando ao ponto de tentar forçar as outras a pensarem como elas.

Em casos extremos, eu já ouvi tradicionalistas afirmando que as adorações vivenciadas pelos carismáticos são baseadas apenas em sentimentalismo, e que em nada agrega para uma fé sólida, pois tudo que é emocional é passageiro. Em contrapartida, também em casos extremos, já ouvi carismáticos afirmando que os tradicionalistas são mornos na fé e que não vivenciam as adorações de forma enérgica por não terem o Espírito Santo e não darem liberdade ao mesmo para agir em suas vidas. Em qual lado me posiciono? Em nenhum. O extremismo, seja em qual for o lado, é nocivo e prejudica tanto a pessoa que expressa-o, quanto aos que estão a volta. Tudo em nossa caminhada - com raras exceções óbvias (cf. Ap 3,5), deve ter como ponto crucial a busca pelo equilíbrio. Agora, deixe-me falar de forma simplificada sobre o que ao meu entender - e que está em acordo com a doutrina católica -, é uma adoração espiritual.

Uma adoração espiritual combina fervor com discernimento, alegria com solenidade, emoção com racionalidade. A verdadeira liberdade do Espírito (cf. 2 Co 3,17) é aquela que nos liberta da escravidão da lei, do pecado, da condenação e da culpa (cf. CIC 1741). Se alguém quiser agradecer em voz alta, levantar as mãos e pular de alegria por isto, que assim o faça, e que ninguém tente mudar. Mas também não chamem de frio, formal, velho, morto ou "sem o Espírito Santo" aqueles que preferem manifestar sua alegria simplesmente fechando os olhos e agradecendo silenciosamente a Deus (cf. CIC 2628) por ter tido misericórdia de si por ser um miserável pecador. 

A Igreja é Una, e todos os tipos de manifestações que não estejam indo contra as doutrinas expressas nas Sagradas Escrituras, na Tradição e do Magistério autêntico devem ser respeitadas, quer gostemos, quer não. É a multiforme graça de Deus sendo manifestada da forma que Ele quer, aonde Ele quer. Portanto, não olhemos com maus olhos os nossos irmãos, apenas por não manifestarem sua adoração e contemplação de Deus da mesma forma que nós. Afinal, esta é mais uma das maravilhosas de nossa riquíssima Igreja; existe espaço para todos, desde os mais recolhidos até os mais enérgicos, e o melhor disto? Todos somos um!

Que tenhamos isto sempre em mente.
Nele, que se manifesta em cada um de forma particular.

domingo, 10 de maio de 2015

Como me converti ao catolicismo




Esta é a história resumida da minha conversão ao catolicismo.

Primeiramente, deixe-me falar sobre mim.

Eu nem sempre fui um cristão. Na realidade, em toda a minha infância e adolescência, eu não me lembro sequer de ter entrado em uma igreja. Sempre me declarava uma pessoa sem religião e pouco me importava estes assuntos. Um dia na academia, um velho conhecido meu que depois veio se tornar amigo, me convidou para uma reunião cristã de jovens que acontecia em sua residência semanalmente. Inicialmente eu disse que iria, com o fim de que ele não insistisse, entretanto, durante todos os dias até o dia da reunião, este rapaz me enviou SMS's com versos bíblicos e me buscou em casa sem sequer me dar espaço para fugir. Pois bem, aqui começa minha caminhada.

Por 7 anos caminhei na fé em diferentes igrejas, sendo membro fixo de duas. A primeira delas de cunho neopentecostal, permaneci por 2 anos, e foi lá que tive meu primeiro contato com Jesus Cristo e as Sagradas Escrituras para, posteriormente, me desligar desta congregação devido a divergências doutrinárias e ingressar em outra igreja de cunho protestante. Nesta segunda, permaneci por 5 anos, onde aprendi a ter um hábito de leitura e um amor ainda maior pelas Sagradas Escrituras, me tornando um cristão protestante e calvinista extremamente comprometido com o Reino, com evangelização, discussões teológicas, dentre outras coisas, me empenhando constantemente na busca pelo conhecimento a respeito do Cristo revelado. Dou graças a Deus por esta igreja, que em absolutamente nada tenho a reclamar.

Os anos se passaram, e por negligência minha, comecei a enfraquecer na fé, e pela primeira vez nestes 7 anos de caminhada eu me via cada vez mais distante de Cristo, até o ponto de chutar o balde e simplesmente deixar de frequentar aos cultos. Foi uma fase sombria, onde me entreguei totalmente aos meus desejos carnais, mergulhando de cabeça rumo a um abismo sem fim, que endurecia cada vez mais meu coração.

O abismo foi tão profundo e minha queda foi tão intensa, que cheguei a perder totalmente a fé em Deus. Me tornei um agnóstico, ou seja, acreditava na existência de um ser superior que tinha criado todo o Universo e o que existe dentro dele, porém, não acreditava mais que este ser superior era um Deus-pessoal que se importava com a humanidade. E foram 10 meses crendo desta forma... eu não gostava sequer de ouvir falar a palavra "Deus", e constantemente fugia de amigos que por amor a mim, tentavam pregar o Evangelho, na tentativa de me levar de volta para a igreja.

Os meses passaram, e um dia quando eu estava deitado na cama pronto para dormir, me veio na cabeça a memória de todos os anos em que eu era cristão e de como eu era comprometido e acreditava convictamente em tudo aquilo, de tal forma que eu conseguia manter sob controle todos os meus desejos carnais, coisa esta que eu não conseguia naquele momento, me tornando totalmente escravo de meus impulsos. Isso ficou martelando em minha cabeça, até que resolvi orar a Deus:

"Deus, eu não acredito mais na sua existência, e se o Senhor existe, sei que o desagrado, pois nas Sagradas Escrituras diz que sem fé é impossível agradar ao Senhor. Pois bem, se o Senhor realmente existe e me ouve, devolva a minha fé e me leve de volta para sua casa, porque se o Senhor existe e me ouve, eu só quero fazer o que é certo!"

Dito isto com total frieza, porém extrema sinceridade, sem absolutamente nenhuma emoção e sequer acreditando estar sendo ouvido, eu virava e dormia. Orando desta forma procedi por cerca de 3 meses.


Certo dia eu estava no Facebook, quando uma antiga conhecida do meu antigo colégio, que eu não via e nem ouvia falar a quase 10 anos me adicionou. Quando eu vi, estranhei, pois na época, apesar de termos nos falarmos uma vez ou outra, não tínhamos intimidade. Aceitei! Logo após aceitá-la, começamos a conversar e, poucos minutos depois ela me convidou para prestigiar sua comunhão no próximo domingo em sua Paróquia. Eu nunca tinha entrado em uma Igreja Católica, e na verdade, eu enquanto protestante, era um crítico ferrenho do catolicismo muito bem embasado e fundamentado nas Sagradas Escrituras e em meus estudos de apologética. Porém, por algum motivo eu resolvi aceitar, mais por ela do que por mim, pois via a alegria dela ao falar de sua comunhão.

Era domingo de páscoa, finalmente o dia tinha chegado. Começou a chover muitíssimo e a ventar bastante, e por um momento cogitei a possibilidade de não ir. Porém, eu não queria descumprir a minha palavra, já que eu tinha garantido a ela que iria, por isso, me arrumei, peguei o carro e fui.

Chegando lá, eu estava um pouco nervoso, pois era a primeira vez em que eu entrava em uma Paróquia. Comecei a olhar as imagens, pessoas com terços nas mãos e automaticamente me vinha em mente dezenas de versículos bíblicos que eu tinha aprendido e que condenava tudo aquilo que eu estava vendo, e apesar de neste momento eu ainda estar me considerando um agnóstico, eu simplesmente visualizava tudo como extremamente incoerente pelo ponto de vista cristão, visto que a mesma Bíblia que eles usavam era a que eu usava enquanto protestante em meus estudos - com exceção de alguns livros que nós considerávamos apócrifos. Porém, tentei parar de pensar nisso e, por respeito, imitar o que eles faziam, pois até então eu não sabia como me portar em uma missa.

Quando começou a homilia, eu estava bastante atento e começando a me sentir um pouco mais a vontade, afinal, era um momento em que eu estava mais acostumado a vivenciar pelas igrejas que passei, era o momento do que eu considerava o sermão, a pregação. Ouvi atentamente e, por um momento comecei a visualizar toda a minha caminhada na fé do início até a queda. Visualizei meu momento caído, que antes não me fazia sentir vergonha alguma, e agora, por um instante, percebia meus olhos se enchendo de lágrimas com tristeza e arrependimento profundo, fazendo com que estranhamente aquela mesma fé intensa que eu tive por 7 anos e que deixei de ter por cerca de 10 meses voltasse de forma instantânea dentro de mim.

Na mesma hora lembrei de minhas incessantes orações frias e incrédulas antes de dormir:

"[...] Se o Senhor realmente existe e me ouve, devolva minha fé e me leve de volta para sua casa [...]"


Ele me ouviu! (Lc 11, 9-13)

Naquele momento que para mim foi muito intenso diante de tudo isso que tinha acontecido, eu fiz um compromisso com Deus, orando:

"Deus, eu pedi para o Senhor devolver minha fé e me levar de volta para sua casa. No entanto, o Senhor fez isso me trazendo em uma Paróquia. Eu não sei o que estou fazendo aqui, pois nunca vi a Igreja Católica como Igreja de Cristo, porém, foi esta Paróquia que o Senhor usou para devolver minha fé. Em gratidão, eu me comprometo em me esvaziar de todos os conceitos formados que eu tinha a respeito do catolicismo e seguir as palavras de Santo Agostinho, quando ele diz "Creio para compreender, compreendo para crer melhor.". Irei caminhar como um bebê na fé cristã, acreditando momentaneamente em tudo que eu ler para conseguir compreender, para depois que compreender, me aprofundar e ter uma fé bem fundamentada, crendo melhor. Quando eu encontrar sentido e coerência no que aprender, tendo base nas Sagradas Escrituras, e meu coração e consciência se sentirem em paz, visto que não é correto e nem prudente ir contra minha consciência como o Senhor próprio me ensinou, então mergulharei de cabeça nesta doutrina e a anunciarei com minha vida e palavras."


E ali iniciava minha conversão à fé católica, que estava apenas no primeiro dia...