Resolvi tirar as últimas semanas para ouvir mais, ler mais, meditar mais, rezar mais, falar menos e escrever menos. Afinal, já diziam os antigos que o princípio da sabedoria é o silêncio, e há tempo de estar calado e tempo de falar (cf. Ec 3,7). Durante este tempo, me recolhi, buscando me aprofundar na doutrina da Igreja, estudando a Patrística, o Catecismo, as Sagradas Escrituras e ruminando em cada questão aprendida, rezando a Deus para que este aprendizado encontre terreno fértil em meu coração e intelecto, gerando bons frutos e discernimento, para que possam ser utilizados de forma prática em minha vida a favor do Reino.
Pois bem, neste texto, eu gostaria de abordar um assunto bastante delicado, muitas vezes negligenciado, pelo fato de poucas pessoas parecerem conseguir tratar sobre ele sem se sentirem ofendidas. E este assunto é extremamente importante e necessário ser tratado de forma adulta e madura, que é a questão de uma divisão que alguns de nós católicos acabamos por criar entre carismáticos e tradicionalistas. Ora, caro leitor, você poderia se apressar em afirmar como descrito no título deste texto, que a Igreja é Una e Indivisa, e ela realmente é, entretanto, quando levamos isto para o campo prático, vemos que as pessoas tem dificuldade de respeitar a individualidade das outras no que diz respeito a forma como querem contemplar e adorar a Deus, algumas chegando ao ponto de tentar forçar as outras a pensarem como elas.
Em casos extremos, eu já ouvi tradicionalistas afirmando que as adorações vivenciadas pelos carismáticos são baseadas apenas em sentimentalismo, e que em nada agrega para uma fé sólida, pois tudo que é emocional é passageiro. Em contrapartida, também em casos extremos, já ouvi carismáticos afirmando que os tradicionalistas são mornos na fé e que não vivenciam as adorações de forma enérgica por não terem o Espírito Santo e não darem liberdade ao mesmo para agir em suas vidas. Em qual lado me posiciono? Em nenhum. O extremismo, seja em qual for o lado, é nocivo e prejudica tanto a pessoa que expressa-o, quanto aos que estão a volta. Tudo em nossa caminhada - com raras exceções óbvias (cf. Ap 3,5), deve ter como ponto crucial a busca pelo equilíbrio. Agora, deixe-me falar de forma simplificada sobre o que ao meu entender - e que está em acordo com a doutrina católica -, é uma adoração espiritual.
Uma adoração espiritual combina fervor com discernimento, alegria com solenidade, emoção com racionalidade. A verdadeira liberdade do Espírito (cf. 2 Co 3,17) é aquela que nos liberta da escravidão da lei, do pecado, da condenação e da culpa (cf. CIC 1741). Se alguém quiser agradecer em voz alta, levantar as mãos e pular de alegria por isto, que assim o faça, e que ninguém tente mudar. Mas também não chamem de frio, formal, velho, morto ou "sem o Espírito Santo" aqueles que preferem manifestar sua alegria simplesmente fechando os olhos e agradecendo silenciosamente a Deus (cf. CIC 2628) por ter tido misericórdia de si por ser um miserável pecador.
A Igreja é Una, e todos os tipos de manifestações que não estejam indo contra as doutrinas expressas nas Sagradas Escrituras, na Tradição e do Magistério autêntico devem ser respeitadas, quer gostemos, quer não. É a multiforme graça de Deus sendo manifestada da forma que Ele quer, aonde Ele quer. Portanto, não olhemos com maus olhos os nossos irmãos, apenas por não manifestarem sua adoração e contemplação de Deus da mesma forma que nós. Afinal, esta é mais uma das maravilhosas de nossa riquíssima Igreja; existe espaço para todos, desde os mais recolhidos até os mais enérgicos, e o melhor disto? Todos somos um!
Que tenhamos isto sempre em mente.
Nele, que se manifesta em cada um de forma particular.
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